segunda-feira, 27 de julho de 2015

PROSA, POESIA E O DEUS MERCADO


O romance é um gênero literário "superior" à poesia? A frase, em si mesma, já é ridícula e dispensaria comentários, se não houvesse editores e romancistas que acreditassem firmemente nela. Em que residiria a suposta "superioridade" do romance? No número de páginas? Pouco provável, já que a obra literária mais extensa de que se tem notícia é o Mahabharata, da Índia, que reúne vários volumes. No "conteúdo"? Menos ainda: quais romances têm a mesma quantidade de informações históricas, políticas, religiosas e filosóficas que a Odisseia de Homero, a Divina Comédia de Dante ou Os Lusíadas de Camões? O romance seria "superior", então, no trabalho formal? Negativo: durante quase 2 mil anos, a poesia era escrita segundo rigorosas normas técnicas relativas ao metro, rima, ritmo, figuras de linguagem, e após a adoção do verso livre surgiram novas formas poéticas, não menos difíceis. O romance, escrito com mais liberdade formal, era desprezado exatamente por isso até o século XIX, quando conquistou público e lugar no mercado. Não há uma forma literária superior ou inferior a outra: o que existe é a valorização, PELO MERCADO, dos gêneros e obras literárias que são mais acessíveis ao público e, exatamente por isso, mais "vendáveis". A poesia culta é acessível a menos pessoas do que o romance por exigir uma outra forma de leitura, que prescinde de histórias, personagens, e pressupor um repertório cultural mais rico por parte do leitor. Se há menos pessoas que lêem poesia no Brasil isto se deve a um sistema educacional falido e a uma mídia que só veicula notícias relativas a certo "mercado literário", ligado aos interesses das grandes editoras, distribuidoras e livrarias.

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