segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

CADERNOS BESTIAIS (III)



















CANTIGA

Je n’était que son ombre

Tristan Tzara

Penso em você eroticamente.
Até a fabulação
de outra margem,
na estranha habitação onde os números,
pares e ímpares, enlouquecem.

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Um minúsculo leão branco habita a sua fenda.


***

a ferocidade
no limiar da noite,
quando a pele —
desmedida, irremissível,
se projeta em outra pele:
nenhum destino além do nervo tumultuário.


* * *

todas as mulheres
são tigres desenhados
em teus olhos, que se desdobram
na noite estrelada: olhos pés, olhos-mãos,
olhos-boca, olhos-peitos, olhos-nada


***
cada letra
de teu nome
tem sua própria cabeleira,
denso alfabeto que incita à iniciação
no segredo de teu Segredo.
tua sombra segue minha sombra
em cada passo mínimo.


* * *

há uma letra
em cada pétala,
mas nenhuma
para traduzir estrela.
há uma pétala em cada seio,
e um seio em cada lábio
que morde cicatrizes.


* * *

há uma cicatriz
em cada imagem que
não cala, em cada memória
que recusa o esquecimento.


* * *

porém,a delícia
de caminharmos lado a lado,
sem destino, nessa terra ignorada,
quando lagartos devoram cicatrizes.
e então, mais uma vez,
você é para mim um anjo, e eu a sua sombra.


Poema dedicado a Juliana Brittes 

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