sábado, 5 de abril de 2014

POEMAS DE CONTADOR BORGES


DAS LEVES TORTURAS

Bata de leve com os dedos
e acorde o amor sob a pele
depois aperte com as unhas
até marcar os mamilos
com pés de pavão que dançam
em desvario para a lua
ou folhas azuis de lótus
sobre as ancas e o peito
como ensina o Kama Sutra
na arte de usar as unhas
como preciosas garras de tigre
com o polegar por baixo
fazendo o que em música
é função do baixo contínuo
e os outros para cima
comprimindo bem devagar
e depois com firmeza
até que linhas curvas
se formem no umbigo
e meias-luas reluzam
como tochas ao céu do Oriente
e por fim o corpo pareça
um jardim de hematomas
pois quem planta amor
entre dores suplanta
os espinhos da rosa


VERÃO

Aperta com força o pescoço
até sair pela boca meu cálido Oriente
pois não sei se estou vivo
de tão espumante ou morto
(esvaído?) nas areias do gozo

Não que o Fujiyama seja pequeno
ou teu empenho não o alcance
mas quem se conduz na arte
de aumentar pela dor o prazer
dos sentidos morre um pouco

Morre dsempre de não poder
morrer de uma vez mais repleto
que antes e por dissolver-se
no gozo da própria nudez
renasce como se fosse outro

E em pleno sol ou nas sombras
da tarde enquanto o vento
atravessa o verão de teus olhos
me verás tão vivo e feliz
que borboletas sairão pela boca

(Poemas do livro Augustinas & franciscanas. Bauru: Lumme Editor, 2014)

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