sexta-feira, 16 de agosto de 2013

POEMAS DE OLIVERIO GIRONDO


REBELIÃO DE VOCÁBULOS

De repente, sem motivo:
grasnido, palaciano,
carrancudo, micróbio,
padre-nosso, vitupério,
seguidos de: incolor,
bissexto, tegumento,
eqüestre, Marco Polo,
zambro, complexo;
depois de: somormujo,
garanhão, reincidente,
herbívoro, profuso,
ambidestro, relevo;
rodeados de: Afrodite,
núbil, ovo, ocarina,
incruento, escambal,
diametral, pêlo fonte;
em meio de: fraldas,
Flávio Lácio, penates,
laranjal, nigromante,
semibreve, sevícia;
entre: corvo, cornija,
imberbe, garatuja,
parasito, ameado,
tresloucado, equilátero;
em torno de: nefando,
hierofante, goiabeira,
espantalho, confrade,
espiral, mendicante;
enquanto chegam: incólume,
falaz, ritmo, emplasto,
cliptodonte, ressaibo,
fogo-fátuo, arquivado;
e se aproximam: macabra,
cornamusa, heresiarca,
malandro, chamariz,
artimanha, epiceno;
no mesmo instante que
castálico, invólucro,
chama sexo, estertóreo,
zodiacal, disparate;
junto à serpente... não quero!
Eu resisto. Eu recuso.
Os que seguem vindo
hão de achar-se adentro.


GRISTENIA
  
NOCTIVOZMUSGO insone
de mim a mim refluido para o gris já deserto tão duna
    evidência
gorgogotejando nãos que preulceram o pensar
contra as sempre contras da pós-náusea obesa
tão plurinterroído por noctívagos eus em rompante ante
    a garganta angústia
com seu sonhar rodado de oco sino dado de dado já tão dado
e seu eu só escuro de poço lodo adentro e microcosmo tinto
    para a total gristenia


AS PORTAS

Absorto tédio aberto
ante a fossanoite inululada
que em seca greta aberta subsorri seu mais acre recato
aberto insisto insone a tantas mortenazes de incensosom
revôo
até um destempo imóvel de tão já amargas mãos
aberto ao eco cruento por costume de pulso não digo mal
por mero nímio  glóbulo aberto ante o estranho
que em voraz queda enferruja circunrrói as costas parietais
abertas ao murmúrio da má sombra

enquanto se abrem as portas

MITO

Mito
mito meu
acorde de lua sem pijama
embora me firam teus psíquicos espinhos
mulher pescada pouco antes da morte
aspirosorvo até o delírio tuas magnólias calefacionadas
quanto decoro teu luxuosíssimo esqueleto
todos os acidentes de tua topografia
enquanto declino em qualquer tempo
tuas titilações mais secretas
ao precipitar-te
entre relâmpagos
nos tubos de ensaio de minhas veias


DESTINO

E PARA CÁ OU ALÉM
e desde aqui outra vez
e volta a  ir de volta e sem alento
e do princípio ou término do precipício íntimo
até o extremo ou meio ou ressurrecto resto de este ou aquele
ou do oposto
e roda que te rói até o encontro
e aqui tampouco está
e desde acima abaixo e desde abaixo acima ávido asqueado
por viver entre ossos
ou do perpétuo estéril desencontro
ao demais
de mais
ou ao recomeço espesso de cerdos contratempos e destempos
quando não a bordo senão de algum complexo herniado em pleno
vôo
cálido ou gelado
e volta e volta
a tanta terça turca
para entregar-se inteiro ou de três quartos
farto já de metades
e de quartos
ao entrevero exausto dos leitos desfeitos
ou dar-se noite e dia sem descanso contra todos os nervos do
mistério
do além
daqui
enquanto se resta quieto ante o fugaz aspecto sempiterno do
aparente ou do suposto
e volta e volta fundido até o pescoço
com todos os sentidos sem sentido
no sufocotédio
com unhas e com idéias e poros
e porque sim não mais


Traduções: Claudio Daniel 

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