terça-feira, 28 de dezembro de 2010

POEMAS DE BERTOLD BRECHT (I)

REMAR, CONVERSA
Noite. passam deslizando
dois barcos. Dentro
dois jovens. Torsos
nus. Lado a lado remando
conversam. Conversando
remam lado a lado.

HOLLIWOOD
Toda manhã, para ganhar meu pão
Vou ao mercado, onde se compram mentiras.
Cheio de esperança
alinho-me entre os vendedores.

SOBRE UM LEÃO CHINÊS DE RAIZ DE CHÁ
Os maus temem tuas garras.
Os bons alegram-se com teu garbo.
O mesmo
quero ouvir
de meus versos.

EPITÁFIO
Escapei aos tigres
Nutri os percevejos
Fui devorado
Pela mediocridade

LENDO O JORNAL ENQUANTO FERVE O CHÁ
De manhã cedo leio no jornal os memoráveis planos
do Papa e dos reis, dos banqueiros e dos magnatas do petróleo.
Com o rabo do olho vigio
a panela com água para o chá,
como esta fica turva e borbulha e de novo se aclara
e ao transbordar do vaso apaga o fogo.

A MORTE VOLUNTÁRIA DO FUGITIVO W. B.
Ouvi dizer que levantaste a mão contra ti mesmo
antecipando o carniceiro.
Oito anos banido, o olho no triunfo do inimigo,
impelido afinal a uma fronteira intranspassável
passaste, como se diz, o passo transpassável.

Ruem os reinos. Chefes de quadrilha
acodem em compasso de estadistas. Os povos
somem da vista, toldados pelas armas.

O futuro no escuro. Frágeis
os poderes benignos. E vias tudo isso
quando destruíste o corpo torturável.

Tradução: Haroldo de Campos

Nenhum comentário:

Postar um comentário