domingo, 22 de agosto de 2010

DOIS POEMAS DE PHILIP LARKIN


QUE ASSIM SEJA O VERSO

Eles te fodem, teus dignos pais.
Podem dizer que não, mas remanescem.
Te legam seus defeitos pessoais
E alguns extras, só para ti, acrescem.

Mas a seu tempo foram fodidos nos zeros
Por idiotas de velhos chapéus e churras,
Que metade do tempo eram austeros
E outra metade viviam às turras.

O homem a desgraça passa ao homem.
E ela aprofunda-se como uma gamboa.
Anda, sai logo dessa, vê se some,
E não pensa que ter filhos é uma boa.


DINHEIRO

Quinzenalmente, será, o dinheiro me reprova:
'Por que me deixar mofando aqui na cova?
Sou tudo que você não teve de sexo e pileques
E ainda pode tê-los preenchendo uns cheques'.

O que outros fazem dele, é questão curiosa:
Já têm uma segunda casa, carro e esposa.
Decerto, não o mantêm no sótão, feito jazida:
Líquido, dinheiro tem algo a ver com vida.

Ambos têm muito em comum quando se pesquisa:
Mas se você banca a sovinice, acumula divisas,
E, de jovem, desanda a poupá-lo até se aposentar,
Não te paga no fim muito além de um barbear.

Ouço o canto do dinheiro. É mirar do piso superior
Por amplas janelas, numa cidadezinha do interior,
Os casebres, o canal, os brocados da igreja em riste,
Doidos, ao entardecer. É intensamente triste.

Tradução: Ruy Vasconcelos

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