quarta-feira, 16 de junho de 2010

UM POEMA DE CASÉ LONTRA MARQUES

FALA BREVE

Sou o corpo que faz sombra sobre o homem que morre,
o homem não emudecido?
Sou o corpo que o conclui, no momento
de sua extinção,
sou o corpo que o conclui, apesar
de incapaz
de alcançar a precisão?
Saberei seguir o eco que nos contorna, no topo
de uma noite
instalada nas têmporas?
Recusarei, ainda que jamais persistente,
o que descrevemos
como esquecimento receando, no entanto,
assimilar
sua lucidez?
Recusarei a raiva – quase nomeada –
que o sono
– quando refeito – sequer empalideceu?
Poderei repousar
no chão de sua asfixia?
Como delinear
seu incêndio, dedilhar sua hora?
Como preparar
a manhã para uma morte já remota?

(Do livro Saber o sol do esquecimento. Vitória: Aves de Água, 2010)

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