quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

UM POEMA INÉDITO DE RODRIGO DE HARO

SUTRA DO GALO

Mil vezes repetiu o mesmo Sutra,
O galo vermelho o interrompeu.
Repetiu mil vezes, repetiu. Crista
Em riste o galo o interrompeu.

Mil vezes repetiu o mesmo Sutra.
Impertinente, batendo asas, o galo
Voou para o telhado e
Novamente o interrompeu.

Entoou o Sutra com afinco
Redobrado. Lutou contra
Inútil anseio do abandono.
Novamente repetiu o mesmo Sutra.
Mas o galo impudico, inflado
o peito, voou mais alto,
Decidido. Imerso em ouros
Dobrando o canto novamente
O interrompeu. Mil vezes
Cada hora salmodiava, sor-
Vendo minutos e segundos,
O claro Sutra recorrente. Mas
O Galo obstinado o interrompia.

Toda vez que a devota melopéia
Recomeça, o galo seguidor de horas
Canônicas, atento, o interrompe,
Maravilhado pelas formas
Luminosas da aparência.

Mil vezes repetiu o mesmo Sutra,
O galo vermelho o interrompeu.
Repetiu mil vezes, repetiu. Crista
Em riste o galo o interrompeu.

(Leiam mais poemas de Rodrigo de Haro na Zunái de dezembro, saindo do forno...)

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