quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ANTOLOGIA ALEATÓRIA (X)


ARANHA NO SEU SER

Ragno nel suo essere, uma moldura dourada encoberta por, cornucópias, rocailles, tensões submersas em, pequenos orifícios braquinhos, grandes brasões afundados em, douraduras esvaídas que por sua vez encobrem a madeira talhada, a mesma madeira, a seiva e o sol de estações que secam, as mãos dos entalhadores, tudo coberto pela aranha no seu ser, no ser-aranha que fabrica teias, armadilhas, casulos, e tudo encobrindo o quadro, a grande pintura de referência, o cânone: aranha que trabalha sem pincelada de graça, sem pigmento de velha extração animal ou mineral, sem verniz de laca ou cera ou baba de outro material, aranha no seu-próprio sobre a obra-prima abandonada, ali no canto sob o estupor da canícula, quem já viu um julho como estes, quem já viveu tais estações sangrentas, acumulam-se os fios tênues sobre a superfície pictórica, o descobrimento de Moisés é já casulo, o olhar que o pede, puro engano, estratégias da aranha: o opacar, o impedir, não haverá quem revele o tema, o motivo da composição, nenhum limpador da rede de verdade sobre a representação: retórica,. Lugar da aranha ou de Moisés? Rubicundo, Vêmo-lo dissentir desta nova e maior deriva, deste chamamento à natureza e suas razões. Tema: és bebê dentro do molde, imagem que não perdura. E tu, aranha, dadora de males, provedora de escândalos turísticos, és a confortadora dos bons: como a leitura, dissipas sobre o ar os teus sentidos, a tua baba. Moisés flutua em outra dimensão, detrás da renda. Foste concebido em A. C. e pintado, com qual exatidão, por um revisor do acervo, alguém não exatamente, e à tua diferença, alegórico. Eis que a alegoria final se deu no tempo, neste que vivemos, e através da bem-vinda, necessária aranha.

(Poema de Horácio Costa, publicado na revista Et Cetera n. 0, em 2003.)

Um comentário:

  1. oi Claudio Daniel,

    Moisés é já casulo, o olhar que o pede, puro engano, estratégias da aranha: o opacar, o impedir, não haverá quem revele o tema, o motivo da composição, nenhum limpador da rede de verdade sobre a representação: retórica,.
    (poema de Horácio Costa0
    bonito!!!!!!!!!!!!

    aldir brasil jr

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