sexta-feira, 3 de julho de 2009

POEMAS DE ADRIANA VERSIANI

TREZE CANÇÕES DE AMOR E MORTE PARA ALEJANDRA PIZARNIK


A gaiola virou pássaro, enfaixei suas mãos e coloquei sobre elas pesadas pedras.
Amordacei-as, para que você não sinta dor.

Seus dedos tocam a chuva.

A jaula virou muro, quebraram-se as xícaras e tenho um milhão de cacos nos olhos.
Ceguei-os, para que você não sinta dor.

Chove e meus dedos tocam os seus.

Que a morte seja doce e nos vista de seda.

*
Crisálida pendurada no lustre da sala.
A luz de mercúrio não explica.
Noite adentro, asas dançam aos poucos
e vejo soar um ruflar imóvel.

*
Seu nome chão,
pai e pó.

Mãe,
seu nome.

Você chama.
Arde em mim Alejandra.

Alejandra,

Você,

Seu nome.

*
Um anjo sangra na sacada e ela,
ferida,
mergulha para dentro do sono.

Panos para sempre no varal da infância.

*
A ave sobre o banco do jardim
onde nos tocávamos.

Havia febre.

Sua ausência é essa chuva que me acompanha.


*
Ajoelhei-me para desamarrar as botas e percebi gotas de sangue no cadarço
Chamei por seu nome Alejandra,
enquanto procurava por vestígios nas frestas dos tacos.

*

Vidro líquido na retina
Corpo coberto de espelhos

Fogo Fátuo,

Hálito que perfuma meus pés.

*
O corpo lançado ao mar foi feito em pedaços por peixes famintos.
Nunca atraiu as românticas ostras,
que permaneceram fechadas sobre suas pérolas.

*
Um animal invade a noite trágica.
Com cólera de fera e sangue nos olhos,
rompe a margem do espelho.

*
Acabou o banquete dos mortos.
Na areia do deserto escrevo seu nome.
Alejandra,
Água viva
Sol aceso no céu da boca.

*
Punhos cerrados.
Escorre entre os dedos uma alma delicada de mulher.

*
Tenho medo de não saber nomear o que não existe.
Ela não existe.

*
Vem lua,
Vem sol e eu

jamais estive aqui nessa fogueira imprecisa.

Alejandra,
meu amor ,
me diga:

(Leiam mais poemas da Adriana na edição de agosto da Zunái.)

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