sábado, 7 de fevereiro de 2009

LETRA NEGRA (XXII a XXIV)

XXII

descontínua realidade mandíbula de mamute ou mandala.

XXIII

águas coléricas
nas folhas,

esqueletos
de carros

convertidos
em rasuras,

cão desenterra
secas cabeças
de cogumelos

— fragmentos
de metáforas
podres:

paisagem
que se transfigura
e definha

entre uma
respiração
e um breve piscar
de pálpebras.

XXIV

c o n s i d e r e a e s t r u t u r a d o o l h o, s u a l ó g i c a e s f é r
i c a; a j u s t a p o s i ç ã o d e c o n j u n t i v a, í r i s, c ó r n e a, r
e t i n a, c r i s t a l i n o, e m c a m a d a s f i b r o s a s i n t e r l i g
a d a s n u m a r e d e; c o n s i d e r e a c a p t a ç ã o d e c o r e s,
l i n h a s e f o r m a s n a s m e m b r a n a s ó p t i c a s, o a l c a n
c e d a v i s ã o n o e s p a ç o p o l i d i m e n s i o n a l e o f l u i r
e r e f l u i r d a s i m a g e n s n o t e m p o a t é a c o m p l e t a
d e s a p a r i ç ã o d a p a i s a g e m.

3 comentários:

  1. Assim eu termino um poema:

    um olho pendurado no galho da roseira
    alto lúcido e belo como uma rosa

    Não é mesmo instigante a paisagem do olho?
    Não o olho que vê a paisagem, mas o olho como paisagem...

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  2. Anônimo10.2.09

    Águas coléricas fervem e o vapor se derrama pela paisagem branca. Metáforas podres têm cheiro. O cão arranha a terra. E, portanto, a paisagem inteira emigra da moldura do quadro para o espaço exterior - tridimensional. Ou o espaço exterior (mutável) se enquadra na tela. Quem sabe. Um poema de areia, por assim dizer. Gosto desse gosto alquímico de experimentar poesia e cometo porcarias semelhantes - no que respeita ao tema. Por isso talvez leia esse troço com tanto prazer.

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