terça-feira, 6 de janeiro de 2009

UM POEMA DE ANA HATHERLY


WER, WENN ICH SCHRIEE
(fragmento)


Quem, se eu gritar
me concede
a profundeza inversa deste céu
que ao fim da tarde
eu vejo da minha janela
contemplando os anjos
que as nuvens imitam?

Alguém me ouve se eu gritar?

Oiço vozes
ms são vozes inventadas
porque é inútil perscrutar o silêncio
e por isso vos reinvento
a cada pancada do meu coração
a cada pancada surda
que não repercute
no ímpeto claro do vosso desenho fantástico
no alado lado da vossa impossibilidade

Se eu gritar
alguém me ouve
em todas estas coisas?

Nenhum anjo
escuta o meu grito
que não penetra a noite
e só encontra o eco de nenhum desejo

(Do livro Rilkeana – Variações elegíacas, de Ana Hatherly. Lisboa: José Alfaro, 1998.)

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