segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

DOIS POEMAS DE RUY BELO


CERTAS FORMAS DE NOJO

Árvore-cântaro-âmago-estrela
hera-mênfis-ocre-ontem
e hoje um álamo de uivos
Fui-vos fiel, vogais? Conforme consoante...
Venho da vida e trago uma gramática.


COMOVIDA HOMENAGEM A JERÓNIMO BAÍA

À míngua de água numa língua de mágoa
a dívidas a dúvidas devidas
nos levam secreções secretas e sacrílegas
de dádivas de vidas divididas

Em vão devasso os meus devassos dentes
remisso os arremesso a um insosso almoço
num círculo de ouvintes dos de antes distantes
que abraço no abraço que hoje posso

Embora aos centos sejam os assuntos
indiferentes passam transeuntes
e saem sons distintos dos extintos cantos
desses antigos entes designados mastodontes

Língua de areia onde mingua a mágoa
e se divide a dúvida somente ouvida
olhar onde se agua a própria água
quem te saúda encontra enfim saída


(Poemas extraídos do livro Suspeita do avesso: barroco e neobarroco na poesia contemporânea portuguesa, de Vincenzo Russo. Vila Nova de Famalicão: Quasi Edições, 2008.)

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